domingo, 29 de novembro de 2009

Eles

Ela tinha o mundo aos seus pés
Ele tinha os pés descalços
Ela dançava seu charme
Ele era charme sem saber dançar
Ela soprava suave
Ele cuspia palavrões
Ela gostava do sol
Ele só via a lua
Ela se movia no ar
Ele rastejava em rebeldia
Ela tinha traços de anjo
Ele era um rabisco num papel de pão
Ela tinha cheiro de fruta
Ele nem sabia que cheiro tinha
Ela gostava dele
Ele gostava dela
Eles não prestavam...
...no escuro.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Borboletas

Olhando assim pra esse rosto desenhado
Esse corpo bem moldado, é que eu penso comigo
Será que é de verdade?
E o que é a verdade, se não a vaidade que nos some.
E o que é a vaidade, se não a verdade que alimenta nossa fome.
Pensei comigo de novo.
Eu sei que é assim.
Aqui dentro é perto, fechado, seco e molhado.
É a boca, são os olhos, as pernas e os seios?
Ou é todo um conjunto que alimenta meus devaneios?
Mulher, menina, garota, criança
Um dia, hei de ver nossa aliança
Com afeto, dinheiro, calor e sorriso
Muita pele, cheiro e suor sem juízo
As borboletas que sinto ao ver suas fotos
Me fazem dizer: - Te Amo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Tom da Razão

A poeira que risca meus olhos
Desfazem meu bravejo
Te farejo e calejo meus sentidos
Que me castigam a alma
Por tentar te procurar

O som do teu peito
É na minha música
O tom que me falta
Na flauta, faço as notas
Só pra te encontrar

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Coruja e a Rã

Ouviu-se um tímido coaxar de socorro
Da Rã que na grama com medo se escondia
A Coruja enfim cobraria seu desforro
Ali mesmo sem dó ou piedade a Rã sofreria

Mas a Coruja meio tensa, hesitou
Percebeu que a Rã era do tipo venenosa
Fechou os olhos, deu meia volta e caminhou
Por pouco não seria uma caçada vergonhosa

A Rã, então, debochou da Coruja
Apontando-lhe dedos e gargalhadas
Gabando-se de sua vitória suja
A Rã recebe as mortais bicadas

Então a Rã pergunta: Por que me ataca se sabe que vai morrer?
E a Coruja responde: Se eu não morresse te devorando, meu orgulho me mataria.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um Corvo Curvado na Curva

Deitado ele estava
Deitado ficou
Acordado lembrava
Como a vida o derrubou

Dos olhos lhe escorriam
Duas gotas de uma tristeza
Curvado na curva vazia
O que se via era a vasteza

O Corvo ainda vivo
Era preto, bonito e selvagem
Mas curvou-se ao caminho cansativo
Agora seco e detrito, é paisagem